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2009

  • Foto do escritor: Bruno Peixotto
    Bruno Peixotto
  • 7 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura

Iniciava o ano de 2009 ,eu um garoto de 13 anos , não imaginava o turbilhão de emoções que estava por enfrentar. Desde sempre fui uma pessoa sem muito planejamento, fazendo tudo que a vontade pedia, esperando depois pelas consequências, sendo mais jovem era inteiramente guiado impulso. Não contarei sobre o ano todo, mas sim sobre eventos relevantes.

Começamos pelo inicio do ano letivo, em fevereiro, nova sala de aula, novos colegas nada novo, intervalo com 4 turmas no primeiro e 3 turmas no próximo. Intervalo eram os 15 minutos que tínhamos para ver os amigos, conversar e comer algo rápido. Eu andava com minha melhor amiga, de outra sala, e uma amiga da sala em que estudava, e assim passamos o intervalo na primeira semana. Na semana seguinte minha melhor amiga trouxe pro nosso trio o garoto que eu mais odiava e tinha rincha desde a terceira série, mas optei por dar uma chance e ficamos os quatro conversando, no final foi agradável, então nosso trio se tornou um quarteto e assim foi durante o ano todo.

Meados de março minha melhor amiga, me chama pra me contar um segredo que o novo integrante do grupo lhe havia contado, e como uma boa amiga compartilhou seu segredo comigo, ele era bissexual, disse que não estava surpreso afinal ele andava com as garotas que já tinham dito que também eram bi, minha amiga ficou boquiaberta pela minha resposta e eu comecei a vê-lo com outros olhos, um olhar de desejo.

Nossas manhãs eram sempre as mesmas conversávamos um pouco na entrada, tínhamos 2 aulas de 45 minutos cada intervalo de 15 minutos onde ficávamos os 4 juntos e depois mais 3 aulas de 45 minutos e conversávamos um pouco mais na saída, mas aqueles 15 minutos não eram suficiente pra pergunta-lo sobre como havia descoberto sua sexualidade, e nem fazer outro tipo de pergunta pois as garotas estavam sempre conosco. A vontade de perguntar e querer saber mais me corroeu por dentro.

Entramos de férias e não poderia ficar sem falar com ele, então conversávamos pelo MSN, mas não podia faze-lo todas aquelas perguntas sem levantar suspeitas, então pelo Orkut encontrei o perfil de um rapaz que ele poderia se interessar, e criei um perfil falso MSN, que pudéssemos conversarmos sem medo da minha exposição, afinal não seria eu que conversaria com ele e sim o Thiago, esse era o nome do perfil, e funcionou, tanto eu quanto ele nos abrimos através daquele perfil. Eu lhe contava meus desejos e ele os dele e assim seguimos até novembro. Possuía dupla identidade e as duas conversavam com ele, ao mesmo tempo.

Enquanto me passava por outra pessoa conversando com meu amigo, percebi que também gostava de garotos, se era bissexual como ele ou homo não sabia dizer, mas como aceitar essa condição, e como contar para a família, que frequentava a Congregação Cristã do Brasil - tida como a que possui os doutrinamentos mais rígidos -, era isso algo certo? E toda a vergonha e sofrimento que traria a minha família sendo assim, o que todos iriam pensar?

Quanto mais a dúvida crescia dentro de mim, mais reservado e introspectivo me tornava, até estar preso dentro de um casulo criado por mim , para afastar os demais, pois não sabia como lidar comigo e essa angustia me deixava tão infeliz, e invejoso que a felicidade e sorriso das pessoas ao meu redor me deixava com raiva, como eles podiam ser felizes, enquanto eu tinha que viver esse dilema, me tornei grosseiro, rude, e impossível de ter um convívio social, se não fosse com o meu amigo bissexual por perto mas também não conseguia ficar sem conversar com ele levando toda aquela mentira adiante, afinal aquelas conversas eram meu refúgio e escape.

Na escola meu amigo nos contava sobre o Thiago, sem coragem de dizer que o Thiago não existe e que tinha sido eu todo o tempo. Mantive a mentira por meses, somente no final de novembro ou começo de dezembro que tive a coragem e lhe contei a verdade, e que queria lhe dar um beijo, pois estava tentando me encontrado e queria uma trégua na batalha que vinha enfrentando durante todo o ano brigado comigo mesmo durante todo o ano letivo. Ao fazê-lo minha confissão me amiga também confessa que suspeitava de tudo, do perfil falso, minha batalha interna, minha vontade de beija-lo e que me entendia, mesmo eu tendo sido covarde de não ter falado com ele sendo eu mesmo desde o principio.

Ao beija-lo obtive a primeira vitória de minha guerra interna, mas ao terminar o beijo percebi que seria um caminho árduo, repleto de desafios e dificuldades, entretanto o primeiro passo em território desconhecido e assim tido como inimigo foi dado .Hoje 11 após iniciar essa batalhar a venci, como qualquer guerra e batalha há baixas, mas poder viver sem o peso e os dilemas que essa situação colocava frente a mim, e posso dizer sou GAY como a essência da palavra em inglês, respeitado e aceito pela família e amigos, pessoas com quem mais me importava e tinha medo de decepcionar. O tamanho da vitória e felicidade de ganhar essa guerra é imensuravelmente grande, mas seu peso? Extremamente leve e é assim que me sinto.

ree

 
 
 

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