top of page

Homofobia

  • Foto do escritor: Bruno Peixotto
    Bruno Peixotto
  • 2 de abr. de 2020
  • 4 min de leitura

Como qualquer pessoa LGBTQI+, também tive o preconceito em minha vida, mais cedo ou mais tarde que alguns, mas o preconceito infelizmente é um episódio na vida de qualquer pessoa que fuja do que é considerado como padrão e normal. Não é uma parte fácil da vida de pessoas “anormais”, porém aprendemos a lidar com isso, afinal é esse um desafio que encontramos desde pequenos, quando muitos nem se quer sabiam o que lhe tornariam diferentes , mas sim quem estava ao redor, e iniciavam os ataques disfarçados de brincadeiras e piadas.

Infelizmente não estou fora das estatística graves , tive minha dose de homofobia, desde muito pequeno, afinal já era muito diferente dos meus primos, crianças com quem tinha mais contato na época, enquanto todos jogavam bola e empinavam pipa, eu ouvia Xuxa e outras divas infantis, e dançava, eles brincavam de lutinha, eu dançava, eles brincavam na rua, eu estudava e gostava de colorir, eles gostavam de desenhos violentos eu de ursinhos carinhosos, nosso contraste era tão perceptível quanto o encontro do Rio Negro e Solimões. Mas nunca deixaram de me convidar para participar com eles, só não me interessava pelas mesmas coisas que eles.

Como nós, nossas diferenças se tornaram maiores, frequentávamos a escola e iniciamos uma maior integração social que ia além de nossa família .Nessa época que se aprende os primeiros julgamentos e apelidos onde quem não gostava de participar naquelas brincadeiras era “menininha”,”bichinha”, acredito que não soubessem o significado da palavra , mas sabiam que algo positivo não era, e a utilizavam. Notaram que ao caminhar eu rebolava um pouco, assim quando me viam caminhar cantavam um musiquinha – “Uh, Tiazinha! Mexe essa bundinha”. Sim era a música do programa, e não só meus primos, mas meus tios também cantavam quando acontecia algo e eu me retirava pisando forte. Sei que esse tipo de comportamento infelizmente é normal entre as crianças, mesmo que inapropriado, assim tive meu primeiro contato com a homofobia.

Onde estudava não foi muito diferente, se eu era diferente dos meus primos imaginem dos demais alunos, e como eu sempre gostei de estar na escola e realmente ia para estudar desde pequeno os demais alunos, começaram a tirar sarro de mim e sempre me feminizando pelos meus modos, e relação com os professores. E assim foi durante os primeiros anos do ensino fundamental .No segundo ciclo do fundamental já era um pouco maior e talvez precocemente dei meu primeiro beijo aos 11 anos, numa brincadeira de verdade ou consequência ,então comecei a namorar a garota, coisa de criança, nesse momento foi que os comentários e brincadeiras, foram amenizados, afinal eu estava namorando uma garota como poderia ser gay?

Durante toda a primeira fase da vida acadêmica, existiu o murmúrio e uma curiosidade inexplicável de saberem se eu era gay ou não , mania feia que muitos héteros possuem, houve duas professoras que me perguntaram quando eu iria me assumir, fiquei perplexo com aquela pergunta, por mais liberdade que tivéssemos elas ainda eram minhas professoras e eu nunca havia beijado um garoto como poderia ser gay?- Já sentia um interesse grande em um amigo – mas nunca havia beijado. Eis que no final do ano finalmente beijei , mas ninguém soube.

Após o fundamental pude mudar de escola e assumir uma nova identidade, já me aceitando e assumindo ser homossexual, e pela minha surpresa naquela escola não sofri nenhum tipo de preconceito, por outro lado no SENAI, onde estudava concomitantemente a realidade era o oposto, afinal era ali um ambiente extremante machista e rude, ali se produzia os “peões de fábrica” em sua essência, mas como já estava calejado com as piadas, não me surtiam mais efeito.

No SENAI conheci uma garota e nos tornamos muito amigos, ela era bissexual, logo tinha alguém com quem sair de vez ou outra, certa vez decidimos ir em um encontro GLS- Gays Lésbicas e Simpatizantes ,sigla da época, no shopping Center Norte, e fomos , antes de chegar ao shopping para o encontro, tínhamos que passar por uma rua um pouco deserta e mal iluminada, como era o único caminho seguimos em frente, quando de repente cerca de 7 garotos aparecem e começam a nos agredir verbalmente e a nos ameaçar, seguro a mão de minha amiga e corremos, quando sinto uma súbita dor na cabeça e ouço barulho de vidro quebrando, sim quebraram uma garrafa em minha cabeça, como estávamos correndo parei para ver se havia cortado ou não, naquele momento eu só queria fugir com ela. Por alguma valvação divina ou sei lá o que ,não me cortou, mas cerca de 10 anos depois ainda tenho o “galo” pra quem duvidar.

Passou se os anos, e cada vez me importava menos com as ofensas e provocações, acreditava que era superior a tudo isso, e que não eram mais que uma maneira de tentar me rebaixar, e não permitiria. Confesso que até me motivaram a procurar o melhor cada vez mais.Fui aprovado na melhor universidade do país e lá ser uma “bolha” esse tipo de comportamento retrógrado, não é comum, infelizmente não posso dizer que não existe, mas de uma maneira bem menor que fora do campus, assim comprovei minha crença que as ofensas nada mais era que as únicas armas que essas pessoas tinham para me atacar e rebaixar, e como no campus éramos muito similares por estarmos ali o número de casos de homofobia são baixos.

Por sorte eu não nunca tive um caso grave de agressão física ou verbal referente minha sexualidade, diferente de muito , meus casos de homofobia, e preconceito não entram para as estatísticas, mas quantos outros são humilhados, espancados alguns até a morte, ou sofrem outros tipos terríveis de abuso pelo simples motivo de serem diferente .Até quando vamos continuar encorajando esse tipo de crueldade? Podemos cortar o mal pela raiz, com as crianças ao nosso redor quando praticarem o bullying, que sejam interrompidos e lhe explicamos que no mundo existem pessoas diferentes e que esse diferença somente enriquece a sociedade em que vivemos.

ree

 
 
 

Comentários


Post: Blog2_Post

Follow

  • Facebook
  • Twitter
  • LinkedIn

©2020 por Oceano em Mim. Orgulhosamente criado com Wix.com

bottom of page